Ela fingia não escutar os gritos, fingia não ligar. Era como uma fortaleza, uma fortaleza de areia. De forte mesmo só tinha as dúvidas. E fora ela e suas interrogações dormirem, ignorarem. Sorria para os outros como se estivesse feliz, culpava a noite mal dormida pela cara de abatida e o vento pelos olhos constantemente cheios d'água. Ela era frágil, sabia disso. E esse foi o vento, o mar de ressaca, que levou toda a sua estrutura. Qualquer coisa agora era motivo para chorar. Qualquer frustação. Qualquer coisa pequena. Queria brigar, e brigava por qualquer coisa, com qualquer um. Queria gritar e gritava sem razão. Pouco a pouco afastava as pessoas, pessoas que não tinham culpa de nada. Pouco a pouco ficava sozinha, isolada, e ainda mais frágil. Acostumara-se com a solidão e fingia gostar dela. Gostava de ver as pessoas, de ficar sozinha, mas esse talvez não fosse o melhor momento. Ou fosse. Ela era apenas uma garota de dezesseis anos, com muitas dúvidas e inseguranças e uma única certeza: de que ela não tinha nada de concreto. CONCRETO. Chuá.