sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Este lado para cima

Ela fingia não escutar os gritos, fingia não ligar. Era como uma fortaleza, uma fortaleza de areia. De forte mesmo só tinha as dúvidas. E fora ela e suas interrogações dormirem, ignorarem. Sorria para os outros como se estivesse feliz, culpava a noite mal dormida pela cara de abatida e o vento pelos olhos constantemente cheios d'água. Ela era frágil, sabia disso. E esse foi o vento, o mar de ressaca, que levou toda a sua estrutura. Qualquer coisa agora era motivo para chorar. Qualquer frustação. Qualquer coisa pequena. Queria brigar, e brigava por qualquer coisa, com qualquer um. Queria gritar e gritava sem razão. Pouco a pouco afastava as pessoas, pessoas que não tinham culpa de nada. Pouco a pouco ficava sozinha, isolada, e ainda mais frágil. Acostumara-se com a solidão e fingia gostar dela. Gostava de ver as pessoas, de ficar sozinha, mas esse talvez não fosse o melhor momento. Ou fosse. Ela era apenas uma garota de dezesseis anos, com muitas dúvidas e inseguranças e uma única certeza: de que ela não tinha nada de concreto. CONCRETO. Chuá.