segunda-feira, 6 de abril de 2015

What Sarah said

Lidei com a perda pela primeira vez há uns dez anos. Essa é minha única lembrança nítida de ter perdido uma pessoa próxima. A notícia chegou por MSN. Não conseguia acreditar que isso era possível, não sabia exatamente o que sentia ou como agir. Na hora me bateu um arrependimento por tudo o que não vivemos, uma culpa por tudo o que não tinha sido dito, uma dor por ter deixado o tempo nos separar fácil assim.

Ainda hoje não sei lidar bem com essa perda, me sinto culpada pelas lembranças que falham, não sei mais ao certo o que de fato aconteceu e o que foi apenas imaginado. Guardo claramente apenas um único momento, que foi inclusive registrado em foto: ele, com o dobro do meu tamanho, me abraçando forte e bagunçando o meu cabelo, como costumava fazer alguns anos antes, e perguntando se eu tinha me esquecido dele. Essa foi a última vez que nos encontramos. O que me conforta é saber que a última coisa que disse foi: não, gigante, nunca vou me esquecer de você. E não, não vou, ainda que nosso tempo juntos tenha sido tão breve.

Recentemente tive que lidar com a perda duas vezes. A perda de pessoas que nem conhecia. A perda de uma parte de pessoas muito queridas. Dói ver a dor de alguém que sempre se esforçou pra colocar um sorriso no seu rosto e não poder fazer nada. Dói abraçar um corpo trêmulo e não conseguir fazer nada além de chorar junto, porque nunca viu aquela pessoa derramar uma lágrima que não fosse de alegria. Nesse momento, a única conclusão que chego é que Fernando Pessoa estava certo ao dizer que há dores que não doem, mas são dolorosas mais que as outras.

"Dá-me mais vinho, porque a vida é nada."