Ainda hoje não sei lidar bem com essa perda, me sinto culpada pelas lembranças que falham, não sei mais ao certo o que de fato aconteceu e o que foi apenas imaginado. Guardo claramente apenas um único momento, que foi inclusive registrado em foto: ele, com o dobro do meu tamanho, me abraçando forte e bagunçando o meu cabelo, como costumava fazer alguns anos antes, e perguntando se eu tinha me esquecido dele. Essa foi a última vez que nos encontramos. O que me conforta é saber que a última coisa que disse foi: não, gigante, nunca vou me esquecer de você. E não, não vou, ainda que nosso tempo juntos tenha sido tão breve.
Recentemente tive que lidar com a perda duas vezes. A perda de pessoas que nem conhecia. A perda de uma parte de pessoas muito queridas. Dói ver a dor de alguém que sempre se esforçou pra colocar um sorriso no seu rosto e não poder fazer nada. Dói abraçar um corpo trêmulo e não conseguir fazer nada além de chorar junto, porque nunca viu aquela pessoa derramar uma lágrima que não fosse de alegria. Nesse momento, a única conclusão que chego é que Fernando Pessoa estava certo ao dizer que há dores que não doem, mas são dolorosas mais que as outras.
"Dá-me mais vinho, porque a vida é nada."