quinta-feira, 6 de maio de 2010

Eternal sunshine

- Se esqueceu de mim, gigante?
- Eu nunca vou me esquecer de você, pequeno.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010


Nesta vida, em que sou meu sono,
Não sou meu dono,
Quem sou é quem me ignoro e vive
Através desta névoa que sou eu
Todas as vidas que eu outrora tive,
Numa só vida.
Mar sou; baixo marulho ao alto rujo,
Mas minha cor vem do meu alto céu,
E só me encontro quando de mim fujo.

Quem quando eu era infante me guiava
Senão a vera alma que em mim estava?
Atada pelos braços corporais,
Não podia ser mais.
Mas, certo, um gesto, olhar ou esquecimento
Também, aos olhos de quem bem olhasse
A Presença Real sob disfarce
Da minha alma presente sem intento.


Fernando Pessoa

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

LAUGHS

the greatest songs
are never sung
but the grass
get cut
and spelled
in children's hands
how the sun is yellow
but also cold and sutured
...blue

the best laughs
never leave your lungs
and the best life
is art
never made



Do livro Adult Head, de Jeff Tweedy.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Printemps

"Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, — e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores." Cecília Meireles - Primavera

A primavera é um dos meus temas preferidos para fitinhas que irão me acompanhar durante o corrido (e temido) fim de semestre. Algumas bandas são constantes nessas fitinhas: Belle and Sebastian (que na verdade é o maior clichê das mixtapes), Cat Power, Feist, Lavander Diamond, Meg Baird, Luisa mandou um beijo, Juana Molina...


Juana Molina


A cantora e compositora argentina iniciou sua carreira artística na TV, em 1989, e lançou seu primeiro disco, Rara, em 1996. Sua música, uma mistura encantadora de elementos acústicos, eletrônicos e sussuros em espanhol, rendeu o prêmio de "Best World Music Album of 2003" ao seu segundo disco, Segundo, que fora gravado em um estúdio caseiro, nos EUA. Em 2004 gravou o Tres Cosas, de onde saiu a música da minha fitinha de primavera, e que foi considerado por Jon Pareles, do New York Times, como um dos 10 melhores discos pop daquele ano. Son veio em 2006 e Un día foi lançado em 2008, no mesmo ano, fez shows com Feist. Aqui pelo Brasil ela apareceu em 2007, participando do minifestival Solitude, aquele com a Joanna Newson (USA), Wendy Mcneill (Canadá) e Niobe (Alemanha).





... sem mais enrolação, o que interessa: fitinha de primavera #1 Lado A / Lado B

domingo, 16 de agosto de 2009

Móveis

Sexta-feira foi minha primeira aula de Teoria Geral do Estado II e, depois de passar um vídeo do U2 tocando "Sunday, Bloody Sunday" e explicar o que foi o Bloody Sunday e alguns atentados que ocorreram depois, o professor comparou os shows a cerimônias religiosas. A banda é o mestre de cerimônia, o público são os fiéis que fazem tudo o que o mestre mandar e alguns chegam até a entrar em êxtase. Ontem, Móveis Coloniais de Acaju comprovou essa teoria.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Super Kelsen


... e a mulata fundamental.


quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Le cerf-volant

Era fim de julho e eu voltava para casa no 2212A, enquanto o ônibus enchia lentamente, eu acompanhava os últimos raios de sol que iluminavam todo o concreto que cobre o centro da cidade, que àquela hora já não era tão cinza quanto de costume. A cidade estava alaranjada, como só fica nos fins de tarde de inverno.
O ônibus pára em um viaduto, há uma obra a frente, mais uma daquelas obras infindáveis que há anos impedem que eu chegue cedo em casa. A mulher ao meu lado dorme, a cabeça pende para trás e a boca está aberta, ela realmente está dormindo, não consigo entender como alguém consegue dormir num ônibus, em meio aos corpos que se apertam e carregam expressões de cansaço e desesperança.
Olho meu relógio, são 17h47, a cidade está apressada embaixo dos viadutos. Mulheres passam com as sacolas cheias, alguns mendigos se ajeitam em frente à uma loja abandonada, os homens andam a passos largos, catadores de papel passam com seus carrinhos cheios. Alheio a todo esse movimento frenético repetido diariamente ao som do barulho dos motores e iluminado pelo vermelho das lanternas dos carros, ali, bem no meio daquela praça, quase camuflado, um menino solta sua pipa preta que faz desenhos suavemente no céu, bem lá no alto, quase imperceptível aqui debaixo. O menino parece acompanhar o ritmo da pipa, não se importa com o que o espera em casa nem com o que ocorre ao seu redor. É só ele e sua pipa preta.
A cena é um pouco triste, o menino é franzino e tem as roupas velhas, cinza, mistura-se à cidade e garanto que a maioria nem o percebe ali. Mas, no momento, ele é tudo o que eu percebo, me esqueço completamente da cidade que corre lá fora. Isso não dura o tempo que eu gostaria, o ônibus arranca bruscamente, lembrando-me de que é preciso seguir, de que sou parte daquela pulsação. Eu, o menino e a pipa não. Não, ainda não.